
Oi Bianca, e leitor que eventualmente chegar aqui, esse é um texto para ela: Bianca Cavalcanti Martins, que acabou de publicar seu primeiro livro o “Abolicionismo Penal” parte da coleção Um salve pros cria da editora Anansi!
Bom eu sou suspeita pra falar de qualquer escrito que venha das suas mãos, acompanhei bem de perto a evolução e aprendizados da escrita, da leitura e da construção da intelectual que você é/foi. Lembro em 2018 de uma apresentação que fizemos para disciplina de geografia do brasil, se não me engano, onde falamos de encarceramento e das UPPS. Aquela foi uma apresentação montada na intensidade, e pressa afinal de contas como boas mulheres acumuladoras a gente tinha mais 10 funções para dar conta além da acadêmica. Nessa apresentação a professora, branca, chorou e disse que entendia o porquê da nossa escolha, que conseguia ver o porquê do nosso tema e como havia sido bem fundamentado. Tragicômico no fim. Lembro também que perto desta época você participou do Lab no IBCCRIM, e digo com tranquilidade que te tornou ainda mais convicta e atenta às suas escolhas.
Seu livro me lembra as tardes que passávamos conversando sobre nossas famílias, sempre tão presentes de diversas formas. Me lembrou, logo no curto e incisivo conto inicial, do meu tio, do sofrimento da minha avó e de como apesar de vivo ele nunca mais foi lido como um cidadão e sim um ex-presidiário. Como o aprisionamento o mudou, o viciou e o adoeceu. Eu particularmente gosto muito quando um livro nos carrega para dentro de uma história, faz a gente embarcar na pira do autor como se fosse colega, e você fez isso muito bem.
O livro vai se construindo com uma leitura leve, mas precisa da realidade brasileira, elencando elementos tão cotidianos e normalizados que ignoramos o peso deles. Jantar assistindo mortes e condenações, escolher por enquete quem é culpado, espaços roubados e vidas podadas. A escolha do tema discutido é extremamente importante e engata em um movimento bastante forte atualmente de questionamento do que é segurança, como é feita e como proceder diante da sua ineficiência.
De maneira perspicaz insere suas referências culturais e acadêmicas, e eu amo cada vez que você cita uma música ou filme popular. Simplesmente porque você sempre foi audaciosa no mundo acadêmico, colocando a sua mala na mesa e pegando uma ou outra referência sem largar as suas na entrada. É muito bonito ver como você se apropria da própria história, usa ela e se expande num movimento de entender coisas muito maiores e por vezes distantes por relação direta, mas ligadas pelas interseccionalidades. A proposição do dialogo e de novos caminhos é o que fica, o questionar-se sobre como e por onde seguir para entender segurança e o punitivismo “floreado” são os pontos que persistem em mim.
Fica aqui meu agradecimento pela sua disposição em dialogar com os dispostos, com seu esforço e empenho na escrita e construção não só do livro, mas de futuros prósperos e férteis. Que os orixás continuem nos acompanhando, protegendo nosso Ori e nosso caminho. Laroyê e vida longa a sua mente!
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